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Paulo Andrade

Cor no Cinema

8 min read

O Início da Cor no Cinema

No início do Cinema, a película fotográfica era incapaz de captar cor, entretanto esta limitação não impediu os pioneiros do Cinema a tentar criar filmes coloridos.

A verdade é que sempre foi possível projetar cor, a limitação era justamente captar a cor.

Os primeiros filmes coloridos eram, na verdade, películas pintadas à mão. Em uma época onde os filmes duravam cerca de 10 minutos, pintar um filme quadro a quadro, apesar de tedioso, era viável. Estamos falando dos primeiros filmes, ainda no século XIX.

A Trip to de Moon - George Méliès - 1902

O primeiro filme realmente colorido foi produzido por Edward Raymond Turner, em 1899.

O Primeiro Filme Colorido

Na verdade, a película usada não captava cor, mas por meio de filtros, cada quadro (frame) do vídeo correspondia a um dos canais de cor: vermelho, verde ou azul.

Para projetar o filme preto e branco como um filme colorido, cada quadro era projetado usando uma lente própria, e as 3 projeções de cor eram sobrepostas para gerar o resultando final colorido.

Trecho do vídeo anterior, mostrando como o filme seria projetado.

Com os filmes se tornando cada vez mais longos, a opção de pintura manual passou a ser proibitiva.

Uma das várias alternativas testadas na época foi o processo de mergulhar a película em soluções que coloriam todo o filme. O processo denominado tinting coloria todo o filme com um determinado tom. Um processo alternativo, chamado tonning, coloria apenas as áreas escuras da película. Este processo ajudava criar um clima específico para a cena.

Durante toda a história do cinema pré-digital, diversas técnicas para obtenção de cor em filmes foram usadas. O site Timeline of Historical Film Colors explica diversas técnicas empregadas.

Nos anos 20, cerca de 80% dos filmes americanos usavam algum processo de colorização química.

Os vídeos a seguir apresentam uma breve história da colorização.

The Stunning Evolution of Color in Film | WIRED
A Brief History of Colorization
1926: The Origin of Colour Cinema

Nasce a Technicolor

Technicolor Company foi fundada em 1915 com o objetivo de usar o processo de duas cores aditivas para oferecer cor aos filmes.

O processo consistia em usar um prisma que separava as cores capturadas e as enviava para duas películas simultaneamente. Antes de chegar a cada película, um filtro laranja e um filtro azul esverdeado filtravam a luz.

Early Technicolor discoveries from the BFI National Archive

A técnica continuou a evoluir e ser cada vez mais usada, quando, em 1932 a produção praticamente acabou devido a má qualidade das filmes produzidos por cameramans não treinados e o surgimento do película Panchromatic, da Eastman, que oferecia uma qualidade muito superior aos filmes branco e preto, sem os custos de iluminação necessários para filmar usando Technicolor.

Em 1932 a técnica de duas películas foi substituída por uma técnica que usava 3 películas, que oferecia uma qualidade de cores muito superior, apesar de exigir câmeras muito mais caras.

The Three Strip Camera - Technicolor 100

Para evitar os problemas de qualidade da técnica de duas películas, Technicolor exigia que os filmes fossem filmados por cameramans da própria Technicolore que a produção fosse acompanhada por profissionais da Technicolor, para garantir que os filmes tivessem a melhor qualidade visual possível.

Com tantos custos, muitos executivos de Hollywood se mostraram hesitantes. Como forma de convencer os executivos e mostrar a qualidade da técnica, Technicolor ofereceu a mesma para Walt Disney, que era uma empresa iniciante na época, para a criação da série “Silly Symphony”, que acabou ganhando um Oscar.

O vídeo abaixo aborda o impacto da Technicolor no Cinema.

How Technicolor changed movies

Este foi o filme que mudou o futuro da Tecnicolor.

Silly Symphony Flowers And Trees

Somente em 1941 Technicolor foi capaz de colocar as 3 películas de cor em uma única película, chamada Monopack, que podia ser usada em câmeras comuns, tornando o processo de filme colorido muito mais barato.

Na época, 90% do mercado de filme colorido era controlado pela Technicolor e a Eastman/Kodak.

Um pouco mais tarde Eastman lança a Eastman Color, um processo mais barato de produção de imagens coloridas, com um colorido diferente da técnica da Technicolor, porém, mais vantajoso.

O maior problema da Eastman Color é a perda da qualidade. Se não guardado adequadamente, o filme tinha uma vida útil de apenas 5 anos.

O Início do Filme Digitalizado

Em 1985, Ted Turner iniciou um processo de colorização de filmes antigos. Um grande movimento contra este processo iniciou mas o processo de colorização digital fez com que produtores de cinema começassem a pensar na manipulação seletiva de cores.

A colorização de filmes clássicas promovida por Ted Turner foi vista de forma negativa por muitos diretores, uma vez que a colorização mudava radicalmente a forma como o diretor pensou na estética do filme.

Movie Colorization Controversy.

Entretanto, em 1990, muitos diretores passaram a explorar este processo de manipulação de cores, buscando criar coloridos únicos para seus filmes. Um clássico exemplo é a técnica de Bleach Bypass, usada por Steven Spielberg, em Saving Private Ryan.

Nos anos 2000, o processo de digitalização para correção de cores se torna comum, surgindo os Digital Intermediates, que são versões digitalizadas (via scanners) de cada frame de um filme, para que o mesmo possa ser manipulado.

O primeiro filme a usar um tratamento digital usando Digital Intermediates foi filme O Brother, Where Art Thou? dos Irmãos Coen(2001).

O Brother, Where Art Thou? - Trailer

Cor na Produção de Filmes

Correção de Cores

Consiste em ajustar a cor e brilho de diferentes cenas para que a edição resultante pareça visualmente homogênea e integrada.

O processo é necessário em função das diferentes características de câmeras e lentes. Além disso, uma cena pode ter sido filmada em momentos diferentes, o que pode resultar e iluminação diferente, caso a cena tenha sido filmada a luz do dia.

Correção de cores pode ocorrer durante o processo de filmagem, por intermédio de filtros e luzes devidamente ajustadas, além de ajustes na própria câmera.

O termo é muitas vezes usado erroeamente para se referir a outro processo, denominado color (ou colour) grading.

Color Grading

Consiste em ajustar as cores de forma a atingir um certo aspecto visual.

O ajuste de cores também é motivado pela necessidade de causar uma resposta emocional ao espectador. A predominância de certas cores tende a auxiliar na transmissão de emoções em uma cena:

  • Cenas tendendo para o vermelho são associadas a agressão e calor;
  • Cenas Azuladas transmitem a sensação de frio e serenidade. O azul também ajuda a indicar que a cena é noturna;
  • Amarelo também transmite a sensação de calor, porém, com menos intensidade, normalmente associado ao calor de um dia de sol.
  • Verde pode criar a sensação de ambientes futurísticos ou surreais.

O vídeo a seguir apresenta o processo de color grading e mostra como conseguir o look de diversos estilos de filme com o passar dos anos.

Learn How to Color Grade Like the Most Iconic Films In History.

E este vídeo aborda a psicologia das cores em filmes.

Color Theory in Film.

Esta playlist apresenta paletas de cores usada por diretores famosos:

Popular Movie Color Palettes

Color Matching

Consiste em ajustar a cor e brilho de diferentes elementos para que a composição resultante pareça visualmente homogênea e coerente.

Color Matching é usado principalmente na integração de elementos criados em CG com filme ou integrar cenas que tiveram o fundo removido a partir de técnicas de chromakeying.

Color Matching é uma atividade primariamente de composição de cena.

Canais de Cores e Profundidade de Bit

Nos principais softwares de composição, as informações de pixel são tratadas como pertencentes a 4 canais, denominados RGBA, onde A representa o alfa.

A profundidade de bit (bit depth) diz respeito a variedade de valores que cada canal pode armazenar.

Na maioria das aplicações de video, 8 bits para cada canal (12,7 milhões de cores ao todo) é o suficiente. Para o cinema, 10 bits é o mais comum.

O uso de mais cores é indicado em situações de keyinge correção de cores, onde uma grande quantidade de tonalidades é removida da composição. O uso de mais cores permite remover cores sem causar grande perda de qualidade visual.

Outros Usos para Manipulação de Cores

Clarear ou escurecer certas áreas da imagem como parte do processo de ocultação de elementos visuais.

Alterar a cor de parte da imagem de acordo com a necessidade do projeto (mudar a cor dos olhos de um personagem, escurecer uma parte da pele, etc).

Fazer com que cenas de diferentes câmeras ou filmadas em diferentes horas do dia apresentem o mesmo aspecto visual.

Visual Looks

Cinema Hoje

  • Filmes tentem a ser “color graded” de acordo com seu gênero.
  • Aceleração e desaceleração para marcar momentos, principalmente em filmes de ação.
  • Lens-flare e light streaks (JJ Abrams).
  • Shakycam(de Cloverfield a Breaking Bad).
Colour In Storytelling.

Teoria da Cor em Filmes de Horror

MadMax Black e Chrome

Mad Max: Fury Road - Black & Chrome Trailer.

Referências

Minidocumentários

The Stunning Evolution of Color in Film | WIRED

Filmmaker IQ

Sites

Eastman Museum

Technicolor Online Research Archive

Timeline of Historical Film Colors - Excelente e completa referência sobre a cor no Cinema.